domingo, 25 de setembro de 2011

COOPERATIVISMO E EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Antes de contar-lhes a história de sucesso da Cooperativa de Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo – Cafesul. Vamos refletir sobre o que Rosabeth Moss Kanter, no seu livro, Classe Mundial, definiu como que é “Classe Mundial” (1996). Segundo a renomada autora e pesquisadora, Classe Mundial é um jogo de palavras que sugere a necessidade de satisfazer os padrões mais altos existentes para poder participar da competição e, ao mesmo tempo, do crescimento de uma classe social definida por sua habilidade de comandar novos recursos e operar além das fronteiras e territórios muito amplos.
Nesse sentido, ela propõe uma nova divisão de classes da emergente economia da informação – os cosmopolitas e a população local. A autora afirma que os cosmopolitas são ricos no que se refere a três ativos intangíveis: conceitos, competência e conexões. Conceitos se referem àqueles que são os melhores e mais avançados conhecimentos e idéias, cujos resultados impactam na inovação contínua; competência diz respeito aos que tem habilidade para operar de acordo com os mais altos padrões em qualquer lugar, ou seja, investem no aprendizado contínuo e adquirem capacidade de executar sem falhas as ofertas da empresa e à medida que as pessoas aprendem, vão ensinando as melhores práticas aos outros; conexões, diz respeito aos que efetuam os melhores relacionamentos, permitindo acesso aos recursos de outras pessoas e organizações no mundo.
Kanter afirma que os habitantes locais, ao contrário dos cosmopolitas, são definidos principalmente por locais específicos, mas que continuam abertos ao pensamento e às oportunidades globais, porém, não possuem habilidades singulares ou desejáveis, cujas conexões são limitadas a um pequeno círculo em sua própria vizinhança, e cujas oportunidades estão confinadas às suas próprias comunidades. Todavia, a população local possui capacidade de se organizar, dando-lhes força para ter acesso aos mercados internacionais e às oportunidades existentes e desfrutadas pelos chamados cosmopolitas. (Razzollini Fº e Theodoro Fº, 2011).
Pois bem, diante da visão de Rosabeth Kanter, agora posso apresentar-lhes a Cafesul e deixo para vocês a reflexão final. Criada em 1998, ela está localizada no município de Muqui, no sul do Estado e é uma referência de apoio e alavancagem da agricultura familiar, onde predomina a monocultura, cultivada por pequenos proprietários rurais. Portanto, a problemática reside no fato de que os produtores da região, denominado “pentágono do café”, pois abarca cinco municípios (Muqui, Mimoso do Sul, Atílio Viváqua, Jerônimo Monteiro e Cachoeiro de Itapemirim), tinham sérias dificuldades para inserir o seu produto no mercado em condições de igualdade com grandes produtores em face do baixo padrão de produtividade e de qualidade, os quais eram fatores de entrave para ingresso.
Foi nesse cenário que surgiu a Cafesul para efetuar a comercialização do café dos Cooperados, além de prospectar novos mercados, oferecer assistência técnica e acesso a adubos, defensivos e insumos com preços competitivos.
Caros leitores atentem para o perfil fundiário do município de Muqui, após a aplicação do crédito fundiário do governo federal, Muqui passou de 600 propriedades rurais para mais de 1.000, com área média de 6,5 hectares. Possui 2.880 famílias envolvidas na atividade da cafeicultura, com renda média mensal entre 1 e 2 salários mínimos, proveniente da cafeicultura (em torno de 80 %). A produtividade média era de 22 sacas/hectare (café conilon) e 15 sacas/há (café arábica), muito aquém dos padrões atuais, para uma produção anual de 56 mil sacas de café. À época com os preços em declínio, a Cafesul tinha um enorme desafio diante das seguintes questões: Como agregar inovações incrementais no ciclo produtivo? Como elevar a rentabilidade para o produtor?
Não adentrarei nas inúmeras ações da Cafesul para superar estes desafios imperativos (acessem o site e conheçam-nas). Vou direto ao tema central. Como inserir a população local (denominada por Kanter) no cenário mundial, dando-lhes condições dignas e igualitárias? Pois bem, a Cafesul conquistou uma das mais importantes certificações para a agricultura familiar, a Certificação Internacional FAIRTRADE para o Mercado Justo Europeu, junto a FLO (Fairtrade Labelling Organization Internacional) que tem sua sede na Alemanha.
Qual o significado desta conquista? Significa impacto no desenvolvimento econômico, social e ambiental da produção agrícola, possibilitando a Cafesul comercializar o café no mercado interno com garantia de preço mínimo em dólar, propiciando uma proteção ao produtor em épocas de crise. A primeira venda (exportação indireta) foi realizada em 30/01/2009, através da Cia Cacique de Café Solúvel. A empresa compra o conilon para industrializá-lo como café solúvel e o exporta para o mercado europeu. Como resultado, os produtores receberam, em média, 30 reais a mais por saca de café e a Cooperativa recebeu um prêmio social de 30 reais por saca para ser aplicado nas comunidades onde atua e na própria entidade. Nestes moldes, em 2009 e 2010, a Cafesul comercializou 13.450 sacas de café conilon e, nesse período, por meio de um Projeto de Assistência Técnica, a produtividade média do conilon saltou de 22 sacas/hectare para 35 sacas/hectares. (Razzollini Fº e Theodoro Fº, 2011).
Devido as exigências da certificação, o uso de agrotóxicos diminuiu , bem como a proteção da saúde do trabalhador com capacitações sobre a importância do uso de EPI´s(Equipamentos de Proteção Individual) na aplicação dos mesmos e há uma maior conscientização sobre a importância da preservação dos recursos naturais.
Recentemente, a Cooperativa realizou o seu primeiro concurso de qualidade e sustentabilidade do café Conilon, cujos quesitos qualidade e a sustentabilidade na produção foram considerados na pontuação dos melhores cafés.
Neste limiar, resta-me afirmar categoricamente que empreendedorismo social é possível, desde que existam pessoas que sonham e acreditam num Brasil melhor. Parabenizo a diretoria da Cafesul, sua equipe, seus cooperados e, em especial, ao Sr. Altivo Gualandi, um dos sócios fundadores que continua na luta.

Prof. Jaci Alvarenga




REFERÊNCIAS:
CAFESUL – Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo. Disponível em www.cafesul.coop.br.

KANTER, R.M (1996): Classe Mundial. Rio de Janeiro: Campus, 517 p.

RAZZOLLINI F , E.; THEODORO F, J.A.; (2011).  Em Busca da Competitividade - A Importância da Organização em Rede na Agricultura Familiar. V Workshop EmprenderSUR. Inatel.

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