quarta-feira, 30 de novembro de 2011

MUDANÇAS

Durante uma das minhas palestras, fui brindado com este texto. Foi há muito tempo, mas faz pensar:

Era uma vez um riacho de águas cristalinas, muito bonito, que serpenteava entre as montanhas. Em certo ponto de seu percurso, notou que à sua frente havia um pântano imundo, por onde deveria passar.
Olhou, então, para Deus e protestou:
-          Senhor, que castigo!
-          Eu sou um riacho tão límpido, tão formoso, e o Senhor me obriga a atravessar um pântano sujo como esse! Como faço agora?
Deus respondeu:
-          Isso depende da sua maneira de encarar o pântano.
Se ficar com medo, você vai diminuir o ritmo de seu curso, dará voltas e, inevitavelmente, acabará misturando suas águas com as do pântano, o que o tornará igual a ele.
Mas, se você o enfrentar com velocidade, com força, com decisão, suas águas se espalharão sobre ele, a umidade as transformará em gotas que formarão nuvens, e o vento levará essas nuvens em direção ao oceano. Aí você se transformará em mar.
Assim é a vida.
As pessoas engatinham nas mudanças. Quando ficam assustadas, paralisadas, pesadas, tornam-se tensas e perdem a fluidez e a força.
É preciso entrar para valer nos projetos da vida, até que o rio se transforme em mar.
Se uma pessoa passar a vida toda evitando sofrimento, também acabará evitando o prazer que a vida oferece. Há milhares de tesouros guardados em lugares onde precisamos ir para descobri-los.

Abraços,

Prof. Jaci

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

ARTHUR ROCK – UM INVESTIDOR DE RISCO E AS SUAS IDÉIAS

Arthur Rock, legendário investidor de capital de risco dos EUA, que participou na formação de empresas como Apple, Intel e Teledyne, apresenta algumas de suas idéias para que os empreendedores criem empresas prósperas. Leiam alguns de seus conselhos:

  1. “A estratégia é fácil, difícil são as táticas”. Mr. Rock diz que não avalia as projeções financeiras dos planos de negócios. Ele fixa-se nas pessoas que participam na criação da empresa.

  1. “Há uma divisória muito tênue entre negar-se a aceitar críticas e prender-se as próprias opiniões”. Para ele os empreendedores devem ser terrivelmente sinceros consigo mesmos, aceitar as más notícias e estar preparados diante de situações desagradáveis.

  1. “Uma grande idéia nunca alcançará o êxito sem uma grande direção”. Os melhores empreendedores entendem que uma boa direção é vital para suas empresas e, se não possuem capacidade, no momento certo, buscam o profissional adequado para dirigi-la.

  1. “Um empreendedor sem talento para dirigir uma empresa não é mais do que um vulgar promotor”. Segundo ele, não existe um estilo comum a todos os empreendedores. Entretanto, o que é importante é que tenham um estilo e que este estilo motive a sua equipe.

Em 1999, Arthur Rock afirmou que durante os últimos trinta anos, havia analisado, em média, um plano de negócios por dia, afora contatos informais sobre oportunidades para investir. No máximo, um ou dois planos tinham potencial para investimento. Ele diz que se preocupa mais com as pessoas que preparam o plano de negócios do que pela proposta em si mesma.

Se Rock ouvir logo no início da entrevista a pergunta “quanto de dinheiro iremos conseguir?” ele já descarta o pretendente a empreendedor. Ele fala muito pouco nas reuniões e escuta mais. Abaixo, algumas perguntas que o investidor gosta de fazer aos empreendedores:

ü  Quem conhece e quem admira?
ü  Qual o seu histórico profissional?
ü  Quais os erros que você cometeu no passado e o que aprendeu com os seus erros?
ü  O que pensam de mim como investidor de risco?
ü  Você me vê como um futuro sócio ou um mal necessário?
ü  Que tipo de empresa quer criar?
ü  Quem você pretende contratar e como convencê-lo?

Ele também procura perceber quais são as motivações pessoais, os compromissos com o negócio, o caráter e a energia dos empreendedores. Enfim, Mr Rock presta mais atenção nas pessoas do que nos produtos, pois segundo ele, o maior problema para iniciar uma empresa de alta tecnologia é a escassez de excelentes gestores.
Caros leitores! Vamos refletir. Se você quer ser dono do seu próprio negócio e busca um investidor de risco, reavalie a sua forma de agir. Lembrem-se de que projeções financeiras detalhadas são atos de imaginação, pois existem vários aspectos desconhecidos para prever vendas e lucros (Sahlman, 1999).


Abraços,



Prof. Jaci Alvarenga

           
“Eu invisto em gente, não em idéias”. Arthur Rock


Fonte:
  • ROCK, A. HARVARD BUSINESS REVIEW. Iniciativa emprendedora. Estrategia y táctica analizadas por un inversionista de riesgo 1ª Ed. Editora. Deusto, Argentina, 2004.
  • SAHLMAN, W. A. HARVARD BUSINESS REVIEW. Iniciativa emprendedora. Cómo confeccionar un excelente plan de negocio. 1ª Ed. Editora. Deusto, Argentina, 2004.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

MUDANÇAS NA SUA CARRERIA - O CAVALO VELHO

Era uma vez um belo cavalo. Forte e veloz, colecionou vitórias e títulos nas pistas de corridas, bem como elogios por parte de seu dono. No entanto, o tempo foi passando e ele já não atingia os recordes antes estabelecidos por si próprio. Seu dono, a quem tanto estimava, viu que o cavalo não tinha mais nenhuma serventia, e o vendeu para o proprietário de um moinho. Agora velho, cansado e esquecido, o cavalo se viu atado à pedra do moinho, que deveria fazer girar. Ao perceber como seriam os últimos dias de sua vida, refletiu, soluçando; “Depois de dar tantas voltas nas corridas, a que tipo de volta fui reduzido!”

MORAL DA HISTÓRIA

Precisamos estar preparados para a renovação profissional na empresa.



Fonte: Range, A. (2006, p. 151) Fábulas de Esopo para Executivos. São Paulo: Ed. Original.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

ORIGEM DA PALAVRA EMPREENDEDOR

Degen (2009)[1] discorre brilhantemente sobre a definição de empreendedor, buscando a origem da palavra. Segundo ele, o significado da palavra empreendedor deriva da palavra inglesa entrepreneur, que por sua vez, deriva da palavra entreprendre, do francês antigo, formada pelas palavras entre, derivada do latim inter – que significa reciprocidade – e preneur, derivada do latim prehendere – que significa comprador. Portanto, a combinação das duas palavras, entre e comprador, significa simplesmente intermediário.
Degen cita o interessante exemplo do veneziano Marco Pólo (1254-1324) como um empreendedor no sentido do francês de intermediário. Marco Pólo tentou estabelecer uma rota terrestre de comércio entre a Europa e o Oriente. Ele desenvolveu um projeto (atual plano de negócio) e assinou contratos com banqueiros-capitalistas venezianos (atuais investidores de risco). Eles forneceram os recursos financeiros para o empreendimento de Marco Pólo e para os quais se obrigou a vender os produtos que traria na viagem.
Segundo Degen, naquela época, o contrato usual previa juros da ordem de 22 % sobre o capital investido (atual Taxa Interna de Retorno), incluindo o seguro. Após o sucesso da viagem exploratória de Marco Pólo, os banqueiros embolsaram 75 % dos lucros obtidos.
Caros leitores! A história é um baú precioso que revela-nos surpresas admiráveis. Imagino Marco Pólo e Cristóvão Colombo (1451 – 1506) diante dos investidores (banqueiros e o jovem reinado espanhol, respectivamente) expondo seus Planos de Negócio. Aliás, um forte argumento de Colombo para convencer o Rei Fernando e a Rainha Isabel foi o sucesso das viagens asiáticas de Marco Pólo.
E por fim, o que significa empreendedor? Passo a palavra para Joseph Alois Schumpeter (1883 – 1950).

“O empreendedor é o agente do processo de destruição criativa que é o impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista.”

 Abraços,


Prof. Jaci Alvarenga




[1] DEGEN, J.D.; Empreendedor – empreender como opção de carreira. Ed. Pearson. São Paulo. 2009.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

DOS TEMPOS DA DITATURA

Meu pai tinha uma paixão por pássaros grandes e coloridos. Num dia qualquer de 1968, ele ganhou uma araponga. Nossa casa transformou-se numa referência pelos retinidos do belo pássaro – era o nosso despertador. Seus martelares pareciam choros de saudade das matas, mas aos poucos, resignou-se àquela vida de gaiola e fez parte de nossas vidas. Eu era o tratador oficial da araponga querida. Sua comida predileta era a banana nanica. Ela ficou tão mansinha que não era preciso preocupar-se com a porta da gaiola. Muito tempo depois, meu pai construiu um viveiro de pássaros, porém com um inusitado detalhe, ficava aberto. Os pássaros eram livres e podiam brincar à vontade nas lavouras e nas matas vizinhas. À tardinha, muitos voltavam para os seus ninhos e poleiros para dormirem aconchegados. Isto se chama liberdade, um direito que muitos povos ainda buscam neste mundo tão desigual.
Enquanto a nossa araponga cantava, “arapongas” escutavam. Estávamos em plena ditadura.

Prof. Jaci Alvarenga

domingo, 25 de setembro de 2011

COOPERATIVISMO E EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Antes de contar-lhes a história de sucesso da Cooperativa de Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo – Cafesul. Vamos refletir sobre o que Rosabeth Moss Kanter, no seu livro, Classe Mundial, definiu como que é “Classe Mundial” (1996). Segundo a renomada autora e pesquisadora, Classe Mundial é um jogo de palavras que sugere a necessidade de satisfazer os padrões mais altos existentes para poder participar da competição e, ao mesmo tempo, do crescimento de uma classe social definida por sua habilidade de comandar novos recursos e operar além das fronteiras e territórios muito amplos.
Nesse sentido, ela propõe uma nova divisão de classes da emergente economia da informação – os cosmopolitas e a população local. A autora afirma que os cosmopolitas são ricos no que se refere a três ativos intangíveis: conceitos, competência e conexões. Conceitos se referem àqueles que são os melhores e mais avançados conhecimentos e idéias, cujos resultados impactam na inovação contínua; competência diz respeito aos que tem habilidade para operar de acordo com os mais altos padrões em qualquer lugar, ou seja, investem no aprendizado contínuo e adquirem capacidade de executar sem falhas as ofertas da empresa e à medida que as pessoas aprendem, vão ensinando as melhores práticas aos outros; conexões, diz respeito aos que efetuam os melhores relacionamentos, permitindo acesso aos recursos de outras pessoas e organizações no mundo.
Kanter afirma que os habitantes locais, ao contrário dos cosmopolitas, são definidos principalmente por locais específicos, mas que continuam abertos ao pensamento e às oportunidades globais, porém, não possuem habilidades singulares ou desejáveis, cujas conexões são limitadas a um pequeno círculo em sua própria vizinhança, e cujas oportunidades estão confinadas às suas próprias comunidades. Todavia, a população local possui capacidade de se organizar, dando-lhes força para ter acesso aos mercados internacionais e às oportunidades existentes e desfrutadas pelos chamados cosmopolitas. (Razzollini Fº e Theodoro Fº, 2011).
Pois bem, diante da visão de Rosabeth Kanter, agora posso apresentar-lhes a Cafesul e deixo para vocês a reflexão final. Criada em 1998, ela está localizada no município de Muqui, no sul do Estado e é uma referência de apoio e alavancagem da agricultura familiar, onde predomina a monocultura, cultivada por pequenos proprietários rurais. Portanto, a problemática reside no fato de que os produtores da região, denominado “pentágono do café”, pois abarca cinco municípios (Muqui, Mimoso do Sul, Atílio Viváqua, Jerônimo Monteiro e Cachoeiro de Itapemirim), tinham sérias dificuldades para inserir o seu produto no mercado em condições de igualdade com grandes produtores em face do baixo padrão de produtividade e de qualidade, os quais eram fatores de entrave para ingresso.
Foi nesse cenário que surgiu a Cafesul para efetuar a comercialização do café dos Cooperados, além de prospectar novos mercados, oferecer assistência técnica e acesso a adubos, defensivos e insumos com preços competitivos.
Caros leitores atentem para o perfil fundiário do município de Muqui, após a aplicação do crédito fundiário do governo federal, Muqui passou de 600 propriedades rurais para mais de 1.000, com área média de 6,5 hectares. Possui 2.880 famílias envolvidas na atividade da cafeicultura, com renda média mensal entre 1 e 2 salários mínimos, proveniente da cafeicultura (em torno de 80 %). A produtividade média era de 22 sacas/hectare (café conilon) e 15 sacas/há (café arábica), muito aquém dos padrões atuais, para uma produção anual de 56 mil sacas de café. À época com os preços em declínio, a Cafesul tinha um enorme desafio diante das seguintes questões: Como agregar inovações incrementais no ciclo produtivo? Como elevar a rentabilidade para o produtor?
Não adentrarei nas inúmeras ações da Cafesul para superar estes desafios imperativos (acessem o site e conheçam-nas). Vou direto ao tema central. Como inserir a população local (denominada por Kanter) no cenário mundial, dando-lhes condições dignas e igualitárias? Pois bem, a Cafesul conquistou uma das mais importantes certificações para a agricultura familiar, a Certificação Internacional FAIRTRADE para o Mercado Justo Europeu, junto a FLO (Fairtrade Labelling Organization Internacional) que tem sua sede na Alemanha.
Qual o significado desta conquista? Significa impacto no desenvolvimento econômico, social e ambiental da produção agrícola, possibilitando a Cafesul comercializar o café no mercado interno com garantia de preço mínimo em dólar, propiciando uma proteção ao produtor em épocas de crise. A primeira venda (exportação indireta) foi realizada em 30/01/2009, através da Cia Cacique de Café Solúvel. A empresa compra o conilon para industrializá-lo como café solúvel e o exporta para o mercado europeu. Como resultado, os produtores receberam, em média, 30 reais a mais por saca de café e a Cooperativa recebeu um prêmio social de 30 reais por saca para ser aplicado nas comunidades onde atua e na própria entidade. Nestes moldes, em 2009 e 2010, a Cafesul comercializou 13.450 sacas de café conilon e, nesse período, por meio de um Projeto de Assistência Técnica, a produtividade média do conilon saltou de 22 sacas/hectare para 35 sacas/hectares. (Razzollini Fº e Theodoro Fº, 2011).
Devido as exigências da certificação, o uso de agrotóxicos diminuiu , bem como a proteção da saúde do trabalhador com capacitações sobre a importância do uso de EPI´s(Equipamentos de Proteção Individual) na aplicação dos mesmos e há uma maior conscientização sobre a importância da preservação dos recursos naturais.
Recentemente, a Cooperativa realizou o seu primeiro concurso de qualidade e sustentabilidade do café Conilon, cujos quesitos qualidade e a sustentabilidade na produção foram considerados na pontuação dos melhores cafés.
Neste limiar, resta-me afirmar categoricamente que empreendedorismo social é possível, desde que existam pessoas que sonham e acreditam num Brasil melhor. Parabenizo a diretoria da Cafesul, sua equipe, seus cooperados e, em especial, ao Sr. Altivo Gualandi, um dos sócios fundadores que continua na luta.

Prof. Jaci Alvarenga




REFERÊNCIAS:
CAFESUL – Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo. Disponível em www.cafesul.coop.br.

KANTER, R.M (1996): Classe Mundial. Rio de Janeiro: Campus, 517 p.

RAZZOLLINI F , E.; THEODORO F, J.A.; (2011).  Em Busca da Competitividade - A Importância da Organização em Rede na Agricultura Familiar. V Workshop EmprenderSUR. Inatel.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

EMPREENDER: MELHOR QUE MORRER QUEIMADO…


Neste mês, recorri ao livro do Degen[1] para aprender um pouco mais sobre empreendedorismo para os meus alunos. Coincidentemente, o meu amigo Marcellus Pereira enviou-me um artigo (ver título) muito interessante que faz pensar sobre empreender em nosso país. Caro leitor é com o maior prazer que compartilho com você este belo texto:

“Certa vez perguntei ao meu avô, mineiro velho e ladino, o que ele achava do casamento. Era época de suas Bodas de Ouro, com toda a família reunida, preparativos para uma grande festa, minha avó envaidecida… e sua resposta veio rápida como o piscar de olho, que deu meio de lado, para que ela não percebesse a brincadeira: “Bem, meu filho… é melhor que morrer queimado…”.

Lembrei-me da anedota há poucos dias, quando descobri na Internet um site muito interessante: o Kickstart. A idéia é fenomenal, uma verdadeira “quebra de paradigma”, como dizem por aí os modistas: as pessoas se cadastram, registram um projeto qualquer e pedem financiamento aos visitantes. Esse processo é conhecido nas “mídias sociais” como “crowdfunding”.

Reparem em como é libertário esse conceito: se você acredita em uma idéia, não precisa mais bater às portas de “Angel Investors” (alguns deveriam ser chamados de “Evil Investors”, mas isso fica para outro artigo), fundos de investimentos ou bancos. Você pode contar com a ajuda de outros visionários, educadores, aposentados, estagiários, donas-de-casa, professores, pipoqueiros e toda uma multidão de pessoas tão díspares, quanto a Internet, é capaz de conectar.

Vejamos um caso curioso: Kent, Adam e Jim tiveram uma boa idéia: um sistema de iluminação para quem gosta de pedalar à noite. Vários “LEDs” (aquelas “luzinhas” onipresentes em televisores, rádios, equipamentos de som e por aí vai) montados em um aro acoplado às rodas da “magrela”.


A parte eletrônica da coisa calcula a velocidade da bicicleta, de forma que apenas os leds que estão direcionados para frente (ou para trás, dependendo da roda) ficam acesos. Quando a bicicleta está parada, os leds piscam sequencialmente, alertando eventuais motoristas sobre sua posição. Um projeto muito, muito bacana.
Mas o mais bacana é que eles precisavam de US$ 43.500,00. Até a última vez em que olhei a página, já haviam conseguido US$ 122.000,00! Quase três vezes mais que o valor pedido!

A história vai tomando ares surreais, quando analisamos os dados das pessoas que financiam o projeto: de um total de 820, 277 doaram US$ 5,00 ou US$ 25,00. Doaram. Tecnicamente, receberam um cartão de agradecimento ou um adesivo. Quantos de nós fizemos uma doação assim para o “Criança Esperança” ou para o Asilo ou para a APAE? Lembrem-se: esse é um projeto privado, o que torna a coisa mais impressionante.

Outras 496 pessoas pagaram US$ 200,00 ou US$ 250,00 e conseguiram o direito de ter uma versão industrializada da invenção (que, aliás, se chama “Revolights”), quando ficar pronta.

Então, vejamos: quase 500 pessoas compraram algo que ainda não existe, apenas acreditando no potencial do projeto. Outras 277 simplesmente gostaram da idéia e decidiram apoiar (as restantes deram US$ 50,00 e receberam uma camiseta, o que não deixa de ser uma “compra”).

Fantástico!

Empolgado, resolvi procurar algo similar no Brasil e, a princípio, fiquei muito contente ao encontrar o Catarse. Não gostei muito do nome, nem do layout (praticamente o mesmo do similar americano. Ou o similar seria o daqui?), mas vamos lá.

A empolgação rapidamente deu lugar à apatia: apesar de achar louvável a iniciativa, praticamente todos os projetos cadastrados são da área cultural. Não que eu seja a favor de queimarmos os livros, nada disso! Mas e as iniciativas da área tecnológica? Da área de transformação? Só sabemos fazer samba e plantar cana?

Um dos poucos projetos “técnicos” que encontrei é o jogo para iPad “Feed It”. Contrastando com o “Revolights”, “Feed It” precisa de apenas R$ 8.900,00. Conseguiram, até agora, pouco mais de R$ 1.200,00.

Nós (e nisso incluo todos os brasileiros) temos um longo caminho a percorrer. Primeiro, para chegar à mentalidade empreendedora dos americanos (sim, isso é algo que aprenderem no berço: vendem limonada na porta de casa com 5 anos de idade). Depois, para conseguir o mesmo nível acadêmico de outros povos (todos os integrantes da equipe do “Revolight” possuem MBA ou mestrado). Em terceiro lugar, o que é o mais grave: acreditar em nós mesmos. Acreditar que nossas idéias podem mudar o mundo (e ganhar dinheiro com isso). Acreditar que podemos ser os donos dos nossos destinos, sem precisarmos nos contentar com um emprego público, seguro, mas apático.

Às vezes, quando os negócios não vão bem, quando a equipe titubeia e a confiança ameaça balançar, me vem um sorriso saudoso aos lábios e fico imaginando meu avô, sentado para ao café da tarde com os anjos, me olhando calmamente e dizendo: “Empreende meu filho. Empreende. É melhor que morrer queimado…”

Marcellus Pereira – empreendedor e especialista em TI

Amigas e amigos, deixo para vocês a reflexão final. Marcellus agradeço-lhe sinceramente pela bela contribuição. Abraços.

Prof. Jaci Alvarenga


[1] DEGEN, R.J;(2009). Empreendedor – empreender como opção de carreira. Ed. Pearson. São Paulo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

MÁSCARAS NO MUNDO EMPRESARIAL

A RAPOSA E A MÁSCARA
Uma raposa que queria sair da floresta e respirar novos ares resolveu visitar a vila. Chegando lá, viu uma casa com a porta aberta e já foi logo entrando sem cerimônias. A casa estava cheia de fantasias, maquiagem, sapatos e perucas de todas as cores. “Um ator deve morar aqui”, pensou a raposa. Mais ao longe, avistou algo que quase a fez perder o ar: uma linda máscara colorida, toda adornada com fitas e desenhos.
Curiosa, ela colocou a máscara em seu rosto. Apesar de todo o brilho da peça, ainda se sentia a mesma raposa. “Que bela cabeça”, pensou. “Pena que é oca”.

MORAL DA HISTÓRIA

Boa aparência é importante, mas não podemos nos esquecer do valor do conteúdo.

Fonte: Range, A. (2006, p. 53) Fábulas de Esopo para Executivos. São Paulo: Ed. Original.
Acrescento ainda: Tem pessoas que sobrevivem no mundo empresarial com máscaras que encobrem suas debilidades e, até, são reconhecidamente competentes.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

TOMADA DE DECISÕES

A RAPOSA AMBICIOSA[1]

Antes de começar seu trabalho, um grupo de pastores deixava seu almoço guardado no tronco oco de uma árvore. Em seguida, iam cuidar das ovelhas. Assim evitavam que pássaros e outros bichos da floresta devorassem a comida. No entanto, nem imaginavam que uma raposa esperta os observava. Durante muitos dias, ela ficara de olho para ver quantas horas os pastores demoravam para voltar e pegar o almoço.
Ao ter finalmente certeza de que contaria com tempo de sobra, a raposa resolveu entrar no tronco para comer o almoço dos pastores. O buracão era meio estréito, por isso ela teve de encolher um pouco a barriga para conseguir entrar, Tanto planejamento realmente valera a pena: ela se deliciou com todos os tipos de iguarias, até se fartar. Quando estava quase na hora de os pastores voltarem, a raposa decidiu ir embora para casa, porém não conseguir passar pelo buraco! Tinha comido demais e sua barriga estava tão grande que não havia modo de sair.
Desesperada, a raposa começou a uivar. E uivou tão alto que uma de suas amigas veio em seu socorro.
- E agora, o que faço? – perguntou a raposa gulosa – Engordei demais para sair deste buraco!
- Só tem uma coisa que você pode fazer – respondeu a outra.
- O quê? – perguntou a raposa, tentando encolher a barriga ao máximo.
- Esperar ai dentro até emagrecer.

MORAL DA HISTÓRIA

            Planeje tudo com atenção, mas não deixe de considerar os possíveis imprevistos.


[1] [1] Fonte: Range, A. (2006, p. 84) Fábulas de Esopo para Executivos. São Paulo: Ed. Original.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

VOCÊ PODE TORNAR-SE UM LÍDER

             Para John C. Maxwell, todos falam sobre liderança, mas poucos entendem. Segundo o renomado autor, a maioria das pessoas pretende tê-la, mas poucos alcançam o nível de liderança. Digo para vocês, administrar é muito fácil, no entanto, liderar é uma arte, mas é possível desenvolvê-la e praticá-la com eficácia.

            Existem centenas de definições sobre liderança, mas John Maxwell definiu-a de forma brilhante – liderança é influência. Ele se utiliza de um provérbio sobre liderança que esclarece com perfeição o conceito de liderança. “El piensa que dirige y no tiene a nadie siguiéndole, sólo está dando un paseo[1].

            No seu livro, As 21 Leis Irrefutáveis de Liderança, John Maxwell demonstra que as leis podem ser aprendidas, elas são independentes e cada uma delas complementa as demais, elas trazem conseqüências, sendo o fundamento básico da liderança.  Em síntese, algumas delas:

1-    Lei do Tope
Aqui, ele cita os irmãos McDonald. Eles sabiam como dirigir um negócio, criar sistemas eficientes, reduzir custos e aumentar os lucros. Eram gerentes eficientes, mas não eram líderes. Por outro lado, Ray Kroc vislumbrou a oportunidade além do topo da montanha – as nuvens. Os irmãos McDonald estavam satisfeitos com o seu patamar, sendo que, entre 1955 e 1959, Kroc obteve êxito com a abertura de cem restaurantes e quatro anos depois havia quinhentos McDonald´s.

2-    Lei da Influência
Para Maxwell, a verdadeira medida da liderança é a influência, nada mais, nada menos. Ele recorre a poder de influência que tinha Madre Teresa de Calcutá.


3-    Lei do Processo
Consiste no desenvolvimento da liderança diária. Ele diz: Ser um líder é como investir na bolsa de valores. Se você espera fazer fortuna em um dia, não terá êxito. O que mais importa é o que faz diariamente no longo prazo.

4-    Lei da Navegação
Para explicar esta lei, ele discorre a história de dois grupos de exploradores que queriam ser os primeiros a chegar ao Pólo Sul. Ele diz: “Qualquer um pode governar um barco, mas necessita que um líder planeje a rota.

  1. Lei do Legado
Para Maxwell, o valor duradouro do líder se mede pela sucessão e que um legado se cria somente quando a pessoa faz que sua organização tenha a capacidade de fazer grandes coisas sem ela.

           Caros leitores se querem fazer a diferença na sua carreira, afiem o machado na boa leitura. Conheçam a obra de John Maxwell.

           Abraços,


          Prof. Jaci Alvarenga


Fontes:
  • MAXWELL, J.C (2007). Las 21 leyes irrefutables del liderazgo. Grupo Nelson.EUA.
  • MAXWELL, J.C (2009). Desarrolle el líder que está en usted. Grupo Nelson.EUA



[1] Ele pensa que dirige e não tem a ninguém seguindo-lhe, só está dando uma passeio (Tradução livre do autor)

A MISSÃO DO EDUCADOR


Antes de adentrar ao tema, vou contar-lhes a história do “Faz de Conta”. Diz a lenda, que um rei decidiu dar uma festa – a Festa do Faz de Conta. Reuniu seus valetes e solicitou-lhes que encontrasse um mendigo para participar da festa como seu convidado especial. Depois de uma busca desenfreada, encontraram um “farrapo humano”, faminto, sedento e sem perspectiva nenhuma de vida. Adentraram-no ao castelo e disseram:

- Oh, grande rei, eis o mendigo. O rei colocou suas mãos no ombro do mendigo e entrou com ele no salão de festas. Diante de uma grande mesa, estavam dispostos diversos pratos cobertos e bebidas. Ele disse:

- Hoje você é o meu convidado especial. Aqui, temos faisões assados, caviar russo, carneiro assado, peixes especiais... vinhos safra 1400, manjares.... Sirva-se:

Os olhos do mendigo brilhavam. Ele foi direto ao caviar. Ao tirar a tampa, não tinha caviar. Deslocou-se até as costeletas de carneiro, não tinha nada na travessa. Decidiu tomar uma taça de vinho. A garrafa continha água. Enfim, não existiam as comidas, bebidas e sobremesas maravilhosas. O mendigo virou-se e caminhou em direção à porta. O rei seguiu-o. Na saída, o mendigo socou o rei e foi embora. Era a Festa do Faz de Conta.

Amigas e amigos, o que importa nesta vida não é o ter e, sim, o crer e, essencialmente, ser. Esta história ilustra a linda profissão de professor. Aquele que não só ensina, mas educa; aquele que não finge ensinar, e os alunos não fingem que aprendem. Aquele que acredita no processo de transformação dos indivíduos, através da educação. Isto é crer e ser!

Dedico estas singelas palavras aos meus alunos e ex-alunos que nesta semana proporcionaram-me imensa alegria no meu coração. Agradeço a Deus por iluminar-me e colocar bons pensamentos em minha mente e palavras sábias em meus lábios.


Prof. Jaci Alvarenga

segunda-feira, 4 de julho de 2011

INOVAÇÃO – NOVOS TEMPOS DOS VELHOS TEMPOS

Ingressei no mercado de trabalho em 1979. Tempos difíceis. O caos econômico estava presente, não havia investimentos, a inflação trotava e, tínhamos convicção de que ela iria se transformar num animal de arrancada final – a égua galopante. Emprego era coisa rara. As empresas que viviam à custa das empresas estatais sofriam, porém, eram ineficientes.

Planos econômicos tornavam-se a panacéia dos males da combalida economia a cada seis meses. Por falar em panacéia, continuávamos a importar técnicas gerenciais que haviam dado certo em outros países. Eis que surge a “Qualidade Total” como um tônico para revigorar os processos e produtos das empresas brasileiras. Ah, tempos bons! Consultores ganhavam rios de dinheiro para prescrever o maravilhoso remédio japonês num país que ainda não tinha completado quinhentos anos. A seguir, a norma ISO 9000, outro remédio importado, espalhou-se pelo mundo empresarial. Acredito que, realmente, as pequenas e médias empresas tiraram algum proveito, sobretudo, no que se refere à organização e métodos. Parabenizo Max Weber (in memorian) pelos seus maravilhosos estudos sobre a Burocracia. Dela, creio eu, a ISO 9000 tem muito em comum. Novos tempos dos velhos e bons tempos!

A globalização trouxe a bordo mais uma ferramenta de gestão – a reengenharia. Outra onda toma conta do mercado de consultoria empresarial. A ordem era “reengenheirar”. Nos últimos tempos, a inovação é o que temos de mais novo e moderno para impulsionar nossas empresas no ambiente competitivo e globalizado. Por falar em inovação, voltemos um pouco no tempo.

O grande mestre Peter Drucker, em 1959, publicou o primeiro ensaio sobre o futuro: Fronteiras do Amanhã[1]. Segundo Lodi (1973, p149), o foco central do livro não é mais o que acontece dentro da Administração, mas fora dela, em seu ambiente social. O livro focaliza as grandes mudanças sociais que dão à sociedade uma característica pós-moderna. Esse mundo novo caracteriza-se pela inovação em ritmo vertiginoso e por um novo conceito de organização social [...] A inovação é o fenômeno mais importante e tem um impacto espetacular sobre os costumes humanos. Drucker chama a atenção para o risco de ser surpreendido pela inovação, o risco do malogro da inovação e, o pior de todos, segundo ele, o risco do êxito da inovação.

Ora, nos dias atuais, a inovação é o tema da moda. A chama está acesa e parece uma tocha mágica iluminando os rumos das empresas para o sucesso. Sim, acredito que a inovação é um dos pilares de competitividade, mas não podemos deixar de beber nas fontes da história, pois de novo nada tem esta moda atual.

Leitores, não se trata de uma crítica. Estou convicto de que os modismos importados são e serão importantes no processo de transformação do nosso novíssimo país. Preocupo-me com o esquecimento das fontes históricas que, além de consistentes foram efetivamente fundamentadas teoricamente, sendo que muitos consultores não tem dado o devido crédito autoral.


Prof. Jaci Alvarenga



[1] Fonte: LODI, J.B. (1973). História da Administração. 2ª Edição. São Paulo. Ed. Pioneira

TENACIDADE - CAPACIDADE DE SUPERAR OBSTÁCULOS

SEU CAVALO PODE VOAR

Um poderoso rei condenou um humilde súdito à morte. O homem, prestes a ser executado, propôs e teve a concordância do rei, permiti-lo ensinar o cavalo real a voar. Caso não conseguisse, no prazo de um ano, então sua sentença seria cumprida.

Por que adiar o inevitável? Perguntou-lhe um amigo. Não é inevitável, ele respondeu: as minhas chances são de quatro contra uma. Dentro de um ano, o rei poderá perder o trono; eu posso fugir; o cavalo pode fugir e eu posso ensinar o cavalo a voar.

Frequentemente deparamo-nos diante de obstáculos difíceis e aparentemente impossíveis de transpor. Por mais que busquemos soluções, elas parecem não existir. O primeiro impulso nos convida a desistir, mas é preciso que jamais esqueçamos que para o nosso amado Pai Maior todas as coisas são possíveis.

Há alguns séculos, costumava-se dizer que o homem jamais poderia voar. “Se Deus quisesse que o homem voasse, teria lhe dado asas”. Porém, hoje, em poucas horas o homem atravessa o oceano e vai para outro continente! Assim como o súdito de nossa história, aprendamos a olhar a situação com otimismo. Para cada possibilidade adversa, muitos favoráveis poderão ser encontradas e, com muita fé e determinação, o que parecia impossível poderá tornar-se realidade.

Não esmoreça nunca! Mesmo que tudo indique o contrário, creia, o seu cavalo pode voar.

Prof. Jaci Alvarenga

PS: Recebi esta mensagem sem a indicação de autoria.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

MUDE A ESTRATÉGIA

Durante uma das minhas palestras, fui brindado com este texto. Foi há muito tempo, mas faz pensar:

A história é muito antiga, mas não menos curiosa. Algumas tribos africanas utilizam um engenhoso método para capturar macacos. Como estes são muito espertos e vivem saltando nos galhos mais altos das árvores, os nativos desenvolveram o seguinte sistema:

1) Pegam uma cumbuca de boca estreita e colocam dentro dela uma banana.

2) Em seguida, amarram-na ao tronco de uma árvore freqüentada por macacos, afastam-se e esperam.

3) Após isso, um macaco curioso desce, olha dentro da cumbuca e vê a banana.

4) Enfia sua mão, apanha a fruta, mas como a boca do recipiente é muito estreita, ele não consegue retirar a banana.

Surge um dilema: se largar a banana, sua mão sai e ele pode ir embora livremente, caso contrário, continua preso na armadilha. Depois de um tempo, os nativos voltam e, tranqüilamente, capturam os macacos que teimosamente se recusam a largar as bananas. O final é meio trágico, pois os macacos são capturados para servirem de alimento.

Você deve estar achando inacreditável o grau de estupidez dos macacos, não é? Afinal, basta largar a banana e ficar livre do destino de ir para a panela. Fácil demais. O detalhe deve estar na importância exagerada que o macaco atribui à banana. Ela já está ali, na sua mão. Parece ser uma insanidade largá-la.

Essa história é engraçada, porque muitas vezes fazemos exatamente como os macacos. Você nunca conheceu alguém que está totalmente insatisfeito com o emprego, mas insiste em permanecer mesmo sabendo que pode estar cultivando um infarto? Ou alguém que trabalha e não está satisfeito com o que faz, e ainda assim faz apenas pelo dinheiro? Ou casais com relacionamentos completamente deteriorados que permanecem sofrendo, sem amor e compreensão?

Ou pessoas infelizes por causa de decisões antigas, que adiam um novo caminho que poderia trazer de volta a alegria de viver? A vida é preciosa demais para trocarmos por uma banana que, apesar de estar na nossa mão, pode levar-nos direto à panela.

É hora de mudar e pensar de uma maneira diferente. Se você não está obtendo o que você quer, mude a estratégia...

Prof. Jaci Alvarenga

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Competição Mundial de Estratégia e Gestão

Um evento muito legal. Acessem o link abaixo:




Vencedor Nacional: R$ 5 mil

Vencedor Mundial: 5 mil euros.


Prof. Jaci Alvarenga

NOS TEMPOS DE TAYLOR NOS DIAS ATUAIS – Parte II

(Continuação)

O calor era infernal. Um cheiro acre exalava no ambiente. Parece que um idiota não agüentou segurar e soltou um “míssil” de curto alcance dentro daquele ambiente.

-          Tu engoliu urubu – exclamou um anônimo. A risada foi geral.
-          Que falta de educação! – falou uma velhinha.
-          Ô galera, abram os vidros! – gritou outro.

Após uns quarenta minutos de viagem, lá na frente, começou uma discussão. Parece que um sabichão encostou-se ao traseiro de uma morena – foi o suficiente para que o caldo fervesse.

-          Seu safado. Vai burilar aquela que te fez nascer!
-          Que é isto moça! Tá me confundindo! Tô quieto aqui e você vem me acusar.

Severino, espremido que nem laranja de bar, não ousava desviar o olhar para o casal. Puxou a corda da campainha e foi se deslocando dentro daquela lata de sardinhas. Após cheirar várias axilas e pisar em três pés, conseguiu chegar à porta de saída. Ao descer sua cabeça girava e ainda tinha mais duas conduções para chegar em casa.
Enfim, lá pelas nove horas da noite, Severino estava no botequim, próximo do seu barraco. Dirigiu-se ao balcão e o Zé da Barraca já foi abrindo uma cerveja bem gelada.

-          Severo, vai um torresminho?
-          Claro!

Um Severino taciturno saboreou a cerveja e o aperitivo com o tira-gosto.

-          Ô Zé, põe na conta do mês. Boa noite a todos.

Severino saiu caminhando, lentamente, pela rua sem calçamento. A capanga debaixo do braço parecia uma arma pronta para ser sacada, ao menor sinal de perigo. Na sua casa, deparou com a esposa sentada na surrada poltrona e olhos grudados na novela. Foi até ela, deu-lhe um beijo na face.

-          Tudo bem?
-          Tudo. Respondeu ela.

Recostou-se no sofá ao lado de dona Zelinda e ficou descansando daquela odisséia rodoviária. No primeiro intervalo comercial, a esposa puxou uma conversa.

-          Amor! Chegou uma carta de cobrança da loja de móveis. O seu nome vai para o SPC, se não pagar as prestações em atraso.
-          O que mais?
-          O Português veio cobrar o aluguel. Ele estava uma fera e disse que vai nos despejar.
-          Deixa o portuga para lá. E os meninos?
-          Foram para a escola. Pelo menos eles serão a nossa salvação. Se conseguirem formar neste curso técnico, poderão conseguir um bom emprego e, assim, ajudar na manutenção da casa. Depois, eles têm que se virar porque nós não agüentamos pagar mais estudos para eles.
-          O meu coração dói de tristeza, só de saber que os meninos sonham em fazer uma faculdade – complementou dona Zelinda.
-          Que o Padinho Ciço e o Senhor do Bonfim nos ilumine, mulher. A coisa está feia. Não sei como vou fazer para pagar estas contas. O meu salário mínimo e os cinqüenta que você consegue como diarista, não dá para sobreviver.
-          Você tem razão. A conta de luz deste mês foi um absurdo. Só o aluguel e a comida consomem o seu salário.
-          Tive pensando. Vou mandar fazer um “gato” na luz. Dizem que tem um sujeito lá no morro que sabe fazer o negócio.

Severino levantou-se e foi tomar um banho. Debaixo da água, ele sonhava com uma casa maior. O barraco era de alvenaria bruta, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro, espremidos em trinta metros quadrados. Sua família merecia algo melhor.

Bateu uma vontade de chorar. As lágrimas teimavam em não sair. Eram lágrimas contidas das dores da vida dura, de um nordestino que lutara contra a seca e a carestia. Tinha vindo para o Rio de Janeiro à busca do tão decantado eldorado, que todo mundo falava lá no norte. Mal sabia ler e escrever. Como sonhar com dias melhores?

Severino foi dormir e em minutos estava roncando. Naquela noite ele teve um sonho. Sonhou que a seca nordestina tinha desaparecido para sempre. O governo brasileiro havia investido na tal da tecnologia e resolveu o problema que atormentava o sertanejo. Sonhou que estava voltando para a terra natal junto com a esposa. No ônibus, era uma alegria infindável. Até um cantor de improviso, cantarolava uns versos sobre a volta da água e da chuva no nordeste.

Na primeira parada do ônibus, Severino foi perguntar ao motorista quanto tempo faltava para chegar ao Ceará. Qual foi a surpresa? O motorista era o agiota da porta da fábrica, e tinha um olhar nervoso, que mais parecia duas balas de trinta e oito e estavam prestes a saltar em direção ao coração do nordestino.

-          Acorda homem! – sua mulher sacode-o ao perceber sua agitação na cama.
-          Tenho que pagar aquele cabra – exclamou ele.
-          Homem de Deus, pagar quem?
-          O agiota da porta da fábrica.
-          Que pagar nada! Aumenta a dívida e diz para ele que eu estou adoentada.

Ele esfregou os olhos e abraçou-a.

-          Êta mulher arretada! Eu te amo, bichinha.

O amor é a fonte que alimenta e sustenta as privações e provações. Só a fé e o amor para transbordar os rios da vida e salpicar de gotas serenas as terras áridas do país. Severino encontrou forças para encarar um novo dia.




Prof. Jaci Alvarenga


Nota: Extraído do livro de Banco de Rodoviária - Contos e Causos, 2001 do autor (não publicado)