segunda-feira, 3 de outubro de 2011

DOS TEMPOS DA DITATURA

Meu pai tinha uma paixão por pássaros grandes e coloridos. Num dia qualquer de 1968, ele ganhou uma araponga. Nossa casa transformou-se numa referência pelos retinidos do belo pássaro – era o nosso despertador. Seus martelares pareciam choros de saudade das matas, mas aos poucos, resignou-se àquela vida de gaiola e fez parte de nossas vidas. Eu era o tratador oficial da araponga querida. Sua comida predileta era a banana nanica. Ela ficou tão mansinha que não era preciso preocupar-se com a porta da gaiola. Muito tempo depois, meu pai construiu um viveiro de pássaros, porém com um inusitado detalhe, ficava aberto. Os pássaros eram livres e podiam brincar à vontade nas lavouras e nas matas vizinhas. À tardinha, muitos voltavam para os seus ninhos e poleiros para dormirem aconchegados. Isto se chama liberdade, um direito que muitos povos ainda buscam neste mundo tão desigual.
Enquanto a nossa araponga cantava, “arapongas” escutavam. Estávamos em plena ditadura.

Prof. Jaci Alvarenga

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