sábado, 14 de maio de 2011

NOS TEMPOS DE TAYLOR NOS DIAS ATUAIS - PARTE I

- Ô Paraíba. Gritou, lá do fundo do galpão, o supervisor da seção de trefila.
- Fala, chefia. Respondeu Severino.
- Aumenta a velocidade da máquina, que preciso fechar a produção do dia.

Severino, cearense cabra macho, soltou um impropério enquanto girava o botão de velocidade. O calor estava insuportável. Ele olhou o termômetro fixado na viga ao lado. O ponteiro estava parado em quarenta graus. O barulho da máquina era ensurdecedor. Ele recolocou o protetor de ouvidos, senão, dali a pouco, o técnico de segurança viria pegar no seu pé.
A máquina ia cuspindo bobinas de arame. Parecia uma metralhadora que dispara carretéis de linha de aço. Severino consultou o relógio. Faltavam trinta minutos para o jantar. Ele trabalhava no turno das seis até as quatorze. Neste dia ele  estava dobrando de turno para aumentar a renda familiar. O tempo parecia que não andava. Nem sinal do companheiro que iria rendê-lo.
- E aí Paraíba! Esta gerigonça não deu problema?
- Até que enfim, cabra da peste. Tô com uma fome danada!
- Fica maneiro porque tô na área. Deixa comigo que o couro vai comer. Vá com Deus e Nossa Senhora.
- Até amanhã, Pedrão. Cuide-se, hein!

Severino dirigiu-se ao vestiário e lá encontrou um bando de homens pelados. Jogou o seu macacão num canto e um cheiro forte de suor ficou  no ar. Tomou uma ducha fria, trocou de roupa e dirigiu-se ao refeitório dos peões.
Na fila do bandejão a gozação em cima dele era ferrenha.
- Ô Paraíba. Num tô vendo a sua cabeça. Só vejo a montanha de arroz.
- Ô Paraíba, deixa um pouco para nós.

Severino sentou num canto e, avidamente, foi descendo a serra que aliviava a barriga. De um lado, a faca aparava a mistura e, do outro, o garfo recolhia a comida e a impulsionava pela goela abaixo.
- Severino, o cara vem aqui amanhã para receber a grana – comentou o Beto Carioca.
- Oh! Xente Betão! Tinha me esquecido do desgraçado. Tô sem dinheiro para pagar os juros. Cê num pode me ajudar?
- Severo, a coisa tá preta. Tô vendendo o almoço para pagar a janta.

   Severino amoleceu os movimentos dos talheres e ficou ruminando idéias. Como ia pagar o agiota?

-  Não fica amuado, filho de Deus. Para tudo neste mundo, existe solução. Vai para casa, bota a cabeça no travesseiro que você vai encontrar uma saída.
-  É isso aí. Betão, só você para levantar o meu astral.

Despediu-se do companheiro e rumou para o ponto de ônibus. O relógio marcava dezoito horas e quarenta minutos. O ônibus apontou lá na entrada da avenida e o povo ansioso se acotovelou na cobertura do ponto. Devia ter uns trinta passageiros para o embarque. O ônibus já vinha lotado. Severino entrou no bolo da massa humana e, quando percebeu, tinha atravessado a roleta. Acotovelou-se ao lado de um banco, segurou o balaústre e resignado, aguardou a arrancada da condução.

Continua na próxima semana...


Prof. Jaci Alvarenga

Nota: Extraído do livro de Banco de Rodoviária - Contos e Causos, 2001 do autor (não publicado)

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