Neste mês, recorri ao livro do Degen[1] para aprender um pouco mais sobre empreendedorismo para os meus alunos. Coincidentemente, o meu amigo Marcellus Pereira enviou-me um artigo (ver título) muito interessante que faz pensar sobre empreender em nosso país. Caro leitor é com o maior prazer que compartilho com você este belo texto:
“Certa vez perguntei ao meu avô, mineiro velho e ladino, o que ele achava do casamento. Era época de suas Bodas de Ouro, com toda a família reunida, preparativos para uma grande festa, minha avó envaidecida… e sua resposta veio rápida como o piscar de olho, que deu meio de lado, para que ela não percebesse a brincadeira: “Bem, meu filho… é melhor que morrer queimado…”.
Lembrei-me da anedota há poucos dias, quando descobri na Internet um site muito interessante: o Kickstart. A idéia é fenomenal, uma verdadeira “quebra de paradigma”, como dizem por aí os modistas: as pessoas se cadastram, registram um projeto qualquer e pedem financiamento aos visitantes. Esse processo é conhecido nas “mídias sociais” como “crowdfunding”.
Reparem em como é libertário esse conceito: se você acredita em uma idéia, não precisa mais bater às portas de “Angel Investors” (alguns deveriam ser chamados de “Evil Investors”, mas isso fica para outro artigo), fundos de investimentos ou bancos. Você pode contar com a ajuda de outros visionários, educadores, aposentados, estagiários, donas-de-casa, professores, pipoqueiros e toda uma multidão de pessoas tão díspares, quanto a Internet, é capaz de conectar.
Vejamos um caso curioso: Kent, Adam e Jim tiveram uma boa idéia: um sistema de iluminação para quem gosta de pedalar à noite. Vários “LEDs” (aquelas “luzinhas” onipresentes em televisores, rádios, equipamentos de som e por aí vai) montados em um aro acoplado às rodas da “magrela”.
A parte eletrônica da coisa calcula a velocidade da bicicleta, de forma que apenas os leds que estão direcionados para frente (ou para trás, dependendo da roda) ficam acesos. Quando a bicicleta está parada, os leds piscam sequencialmente, alertando eventuais motoristas sobre sua posição. Um projeto muito, muito bacana.
Mas o mais bacana é que eles precisavam de US$ 43.500,00. Até a última vez em que olhei a página, já haviam conseguido US$ 122.000,00! Quase três vezes mais que o valor pedido!
A história vai tomando ares surreais, quando analisamos os dados das pessoas que financiam o projeto: de um total de 820, 277 doaram US$ 5,00 ou US$ 25,00. Doaram. Tecnicamente, receberam um cartão de agradecimento ou um adesivo. Quantos de nós fizemos uma doação assim para o “Criança Esperança” ou para o Asilo ou para a APAE? Lembrem-se: esse é um projeto privado, o que torna a coisa mais impressionante.
Outras 496 pessoas pagaram US$ 200,00 ou US$ 250,00 e conseguiram o direito de ter uma versão industrializada da invenção (que, aliás, se chama “Revolights”), quando ficar pronta.
Então, vejamos: quase 500 pessoas compraram algo que ainda não existe, apenas acreditando no potencial do projeto. Outras 277 simplesmente gostaram da idéia e decidiram apoiar (as restantes deram US$ 50,00 e receberam uma camiseta, o que não deixa de ser uma “compra”).
Fantástico!
Empolgado, resolvi procurar algo similar no Brasil e, a princípio, fiquei muito contente ao encontrar o Catarse. Não gostei muito do nome, nem do layout (praticamente o mesmo do similar americano. Ou o similar seria o daqui?), mas vamos lá.
A empolgação rapidamente deu lugar à apatia: apesar de achar louvável a iniciativa, praticamente todos os projetos cadastrados são da área cultural. Não que eu seja a favor de queimarmos os livros, nada disso! Mas e as iniciativas da área tecnológica? Da área de transformação? Só sabemos fazer samba e plantar cana?
Um dos poucos projetos “técnicos” que encontrei é o jogo para iPad “Feed It”. Contrastando com o “Revolights”, “Feed It” precisa de apenas R$ 8.900,00. Conseguiram, até agora, pouco mais de R$ 1.200,00.
Nós (e nisso incluo todos os brasileiros) temos um longo caminho a percorrer. Primeiro, para chegar à mentalidade empreendedora dos americanos (sim, isso é algo que aprenderem no berço: vendem limonada na porta de casa com 5 anos de idade). Depois, para conseguir o mesmo nível acadêmico de outros povos (todos os integrantes da equipe do “Revolight” possuem MBA ou mestrado). Em terceiro lugar, o que é o mais grave: acreditar em nós mesmos. Acreditar que nossas idéias podem mudar o mundo (e ganhar dinheiro com isso). Acreditar que podemos ser os donos dos nossos destinos, sem precisarmos nos contentar com um emprego público, seguro, mas apático.
Às vezes, quando os negócios não vão bem, quando a equipe titubeia e a confiança ameaça balançar, me vem um sorriso saudoso aos lábios e fico imaginando meu avô, sentado para ao café da tarde com os anjos, me olhando calmamente e dizendo: “Empreende meu filho. Empreende. É melhor que morrer queimado…”
Marcellus Pereira – empreendedor e especialista em TI
Amigas e amigos, deixo para vocês a reflexão final. Marcellus agradeço-lhe sinceramente pela bela contribuição. Abraços.
Prof. Jaci Alvarenga
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